Deportado, Thiago Ávila desembarca em SP e pede boicote a Israel
O ativista brasileiro fez parte da tripulação do barco da coalizão internacional Flotilha da Liberdade, que denuncia o bloqueio de Israel a Gaza desde 2010
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Siga noGUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) - Dias depois de embarcar em uma missão para furar o bloqueio imposto por Israel aos palestinos na Faixa de Gaza e de ser detido ainda no caminho pelas forças de Tel Aviv, o ativista brasileiro Thiago Ávila, de 38 anos, desembarcou na manhã desta sexta-feira (13/6) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e pediu que o Brasil rompa relações com o Estado judeu.
"Se a gente não rompe relações com essa ideologia odiosa, não apenas está sendo conivente, mas está perdendo uma grande chance. Porque líderes históricos, em momentos de crise como este, se engrandecem quando têm coragem", afirmou o ativista a jornalistas no aeroporto. "Eu peço ao governo brasileiro que rompa as relações imediatamente com Israel."
O avião pousou por volta das 5h40. Além de sua esposa, Lara Souza, sua filha de um ano e seu pai, cerca de 50 manifestantes, alguns ligados a partidos de esquerda brasileiros, como o PSOL, esperavam o ativista no aeroporto com bandeiras da Palestina e cartazes que pediam boicote a Israel e criticavam a guerra em Gaza.
Embarcação tentava chegar a Gaza
Ávila fez parte da tripulação do Madleen, barco de uma coalizão internacional chamada Flotilha da Liberdade, que denuncia o bloqueio de Israel a Gaza desde 2010. A embarcação tentava chegar a Gaza com uma quantidade simbólica de ajuda humanitária, mas foi interceptada pela Marinha de Israel a cerca de 180 km do território palestino.
Durante a detenção, familiares afirmaram que Ávila sofreu maus-tratos, foi colocado em uma solitária e fez greve de fome após se recusar a documento de deportação que o acusava de ter entrado de forma ilegal em Israel, embora a embarcação tenha sido interceptada em águas internacionais e seus ageiros, levados para o país à revelia. Ele afirma não ter assinado documentos de deportação antes de ser expulso, afirmação que não pode ser checada imediatamente.
"Eles me informaram que eu estou banido de ir para Israel por 100 anos, mas eu não tenho intenção nenhuma de ir para Israel. Tenho intenção de ir a uma Palestina livre", disse. "Se a história da luta anticolonial está correta, todos os povos têm destino de ser livre. O povo palestino será livre muito antes disso."
Questionado pelos jornalistas presentes, o ativista não detalhou as condições em que ficou. "Eu poderia falar para vocês várias violações que a gente sofreu nesses quatro, cinco dias, inclusive em regime de solitária, e tudo que a gente ou. Mas a verdade é que isso é uma pequena fração, porque mais de 10 mil palestinos hoje estão encarcerados nas masmorras de Israel", afirmou.
Greta Thunberg era uma das ageiras
No total, 12 pessoas estavam no Madleen, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan. Ávila foi detido no domingo (8/6) e liberado na quinta-feira (12/6). Antes de chegar a Guarulhos, a aeronave com o brasileiro fez uma escala em Madri.
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Depois de soltar o brasileiro e outros ageiros do Madleen, o governo de Israel fez uma provocação nas redes sociais: "Tchau, tchau - e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partirem". Tel Aviv acusa os ativistas de "encenar uma provocação midiática com intenção de fazer publicidade".
Israel apertou o bloqueio que impõe ao território palestino após o início da guerra com o Hamas, em outubro de 2023. De março a maio deste ano, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda humanitária, o que deixou o território em uma situação catastrófica, de acordo com organizações humanitárias.
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Ativista por justiça climática
Com mais de 800 mil seguidores nas redes sociais, Ávila mobiliza apoio a causas ligadas à Palestina e ao enfrentamento das mudanças climáticas. Nascido em Brasília em 1986, ele é ativista por justiça climática e cofundador do movimento Bem Viver no Brasil, inspirado em filosofias indígenas andinas. Participou da fundação dos coletivos Insurgência em 2013, do Subverta em 2017 e contribuiu para a chegada do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) ao Distrito Federal.
Ações midiáticas, com transmissões ao vivo em situações de perigo, são comuns em sua trajetória. Ele foi preso duas vezes em 2021 ao tentar impedir despejos de famílias durante a pandemia. Em uma delas, transmitiu ao vivo em seu perfil no Instagram as cenas de detenção. Além disso, é réu em três processos e pode ser condenado por crime ambiental e por resistência a reintegrações de posse.
Fora do país, Ávila já organizou missões para Cuba e para o Líbano, onde compareceu ao funeral do antigo líder do Hezbollah morto por Israel, Hassan Nasrallah. Ele também foi ao Irã, principal inimigo de Tel Aviv, em junho de 2024, quando participou da Cúpula Internacional sobre Gaza daquele ano, batizada de "Os Oprimidos, mas Resilientes", a convite da embaixada iraniana no Brasil.