As diversas preparações com o milho e com o amendoim, os caldos e os tradicionais espetinhos são algumas das comidas que não podem faltar em uma boa festa junina. Apesar de se tornarem protagonistas imbatíveis nesta época do ano, esses alimentos são, na verdade, tradicionais da culinária caipira, e base da cozinha mineira. Por isso, durante todo o ano, eles são estrelas de cardápios belo-horizontinos, seja em receitas tradicionais ou em criações autorais e inusitadas.

 

Tradição

A história da festa junina, tão tradicional no Brasil, se inicia em um contexto de uma Europa pagã, segundo informações de Marcos do Amaral Jorge, do Jornal da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Naquela época, as festividades ocorriam em função do início do verão no Hemisfério Norte, marcado pelo mês de junho. Ao longo do processo de cristianização do continente europeu, essas celebrações do calendário agrícola aram a ser associadas e adaptadas à tradição cristã.

Por isso, inclusive, em Portugal, o nome dado às festividades de junho é “Festa dos Santos Populares", que celebra Santo Antônio, São Pedro e São João. Como já se pode imaginar, o país lusitano trouxe essas celebrações para o Brasil por meio da colonização, no século 16. Apesar dessa “importação”, as tradições foram se adaptando e modificando de acordo com a realidade brasileira, que tem muitas particularidades principalmente no que diz respeito ao clima e à cultura.


As típicas comidas das festas juninas brasileiras, por exemplo, são nativas das Américas, e estão estritamente ligadas às tradições indígenas. É importante ressaltar que essa influência não se restringe ao cardápio junino. Boa parte do que se considera típico brasileiro ou tradicional da culinária caipira, a exemplo do clássico feijão-tropeiro, é fruto da mistura de referências indígenas, negras (vindas com os povos escravizados) e portuguesas.

Cultura e gastronomia

Cozinha tupis faz Milho frito com manteiga e queijo

Bernardo Silva /Divulgação.

É impossível pensar em festa junina e não se lembrar do milho. Canjica doce, canjiquinha, pamonha, curau, bolo e pipoca são apenas algumas variações desse cereal que são comumente associadas às celebrações juninas no Brasil.


O ingrediente, além de estrelar a gastronomia brasileira, é primordial para a economia do país, onde sua produção é bastante expressiva. Para se ter noção, a previsão para a safra de 2024/25, de acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), é de 126,9 milhões de toneladas.

Bares e restaurantes mineiros fazem questão de valorizar esse alimento que diz tanto da nossa história não apenas como brasileiros, mas sobretudo como um povo latino-americano. Alguns optam pelos clássicos, enquanto outros apostam na criatividade para surpreender o cliente.

Esse é o caso do milho frito com manteiga e queijo (R$ 37) da Cozinha Tupis. A casa, que visa valorizar a culinária caipira e mineira em todo o seu cardápio com pitadas de modernidade, tem esse petisco como um de seus maiores sucessos. “Chegamos a tirar ele do cardápio em uma modificação mas o público pediu muito que ele voltasse, é um dos pratos mais amados”, comenta Henrique Gilberto, chef da Tupis.


O prato é um tempurá (empanamento típico japonês advindo de técnicas de missionários portugueses que chegaram ao país asiático no século 16) de milho verde debulhado servido com molho bèrnaise (item francês à base de manteiga, gemas e vinagre) e queijo mineiro ralado, finalizado com furikake (condimento seco japonês à base de peixes secos e moídos).

De olho em Minas

Bolo de milho e fubá do restaurante Trintaeum

Victor Schwaner/ Divulgação

Os doces com milho não ficam para trás. Apostando na mistura de dois sabores clássicos, o restaurante Trintaeum oferece, em seu recém-inaugurado café da manhã, um bolo de milho e fubá. A ideia de unir o milho verde e a farinha feita a partir do cereal em um só bolo veio justamente na indecisão de qual deles usar. “Pensamos em não eliminar nenhum deles e criar um bolo com esses dois ingredientes”, explica a chef do restaurante, Ana Gabi Costa. O resultado foi um bolo equilibrado, no meio termo entre as duas massas.“A textura é muito boa, não é nem tão molhada e cremosa quanto o de milho e nem sequinha como o de fubá”, destaca.


O café da manhã da casa segue a proposta mineira do cardápio de almoço e jantar – que conta com quatro variações de fubá – e, por isso, revisita tantas outras receitas que conversam com a tradição culinária do estado. No cardápio matutino, os clientes podem encontrar também o fubá suado temperado com queijo e rapadura e acompanhado de um ovo frito na manteiga. “Esse é um prato típico do café da manhã do interior de Minas”, comenta Ana Gabi. Todos os itens oferecidos no café, seja no cardápio ou no bufê, estão inclusos no valor de R$ 119 por pessoa.

Doce ou salgado

Sundae de pipoca do D'artagnan, sorvete de pipoca, mousse de chocolate e pipoca caramelizada

D'artagnan/ Divulgação

Com mais de 20 anos de história, o bistrô D’artagnan serve, na capital mineira, pratos clássicos com pitadas de modernidade. Marise Rache, chef da casa, é responsável pela criação de muitas delícias e, uma delas, chama a atenção por transformar um clássico junino em sobremesa.


O sundae de pipoca (R$ 48), composto por sorvete de pipoca, mousse de chocolate e pipoca de caramelo conquistou o coração dos frequentadores logo que foi implementado no cardápio da casa. “Essa sobremesa surgiu com uma campanha de dez anos da sorveteria Alessa, quando eles chamaram dez chefs de diferentes restaurantes da cidade para prepararem, um por mês, uma receita que entraria no cardápio deles”, explica Marise.

A chef conta ainda que em 2017, quando essa iniciativa em parceria com a sorveteria foi realizada, havia um forte movimento de pipocas banhadas em chocolate, que a levaram a olhar para o grão de milho estourado de uma outra maneira. Isso a inspirou a desenvolver o sorvete com esse sabor, que até hoje é produzido pela Alessa, e que é a base dessa sobremesa e também a caramelizar as pipocas que trazem crocância ao doce.


A taça comprida onde é servido foi inspirada em um sundae que Marise experimentou em uma viagem. A sobremesa é uma das mais pedidas no restaurante e, apesar de ser muito bem servida, os clientes a amam tanto que às vezes conseguem comê-la sozinhos, de acordo com a chef. “Tem pessoas que jantam em outros restaurantes e vem aqui só para comer o sundae de sobremesa. Teve um período que tirei ele do cardápio e tiveram muitos protestos dos clientes”, destaca.

Sabor e versatilidade

Outro ingrediente tradicional das festas juninas é o amendoim. Essa semente é, na verdade, mundialmente apreciada. Apesar da origem incerta, muitos pesquisadores afirmam que a planta Arachis Hypogaea, nome científico do amendoim, é originária da América do Sul. Independentemente disso, o que se enxerga na prática é que ela é de fato muito presente na culinária do país, sobretudo em forma de doces.

 

Torta Divina da Das Gemeas de Mirele e cibele Castro

divulgação


Mirele Castro e sua irmã gêmea Cibele, proprietárias da confeitaria Das Gêmeas, preparam uma torta tradicional da família à base de amendoim (a partir de R$250). Ela já está no catálogo da empresa há muito tempo e, na vida das irmãs, há mais tempo ainda. “Eu comia essa torta na casa da minha mãe, feita por minha avó. Todas as netas aram o gosto pelo doce para os filhos, que já são apaixonados por ele”, conta.


A torta, inclusive, foi batizada como “Divina” pelos sobrinhos e pelas duas filhas da confeiteira. E não é para menos: a torta é recheada com creme de amendoim, biscoitos entre as camadas e ainda leva uma cobertura de doce de leite com uma farofinha de amendoim.


No período das festas juninas, o sucesso do item, que já é grande, cresce. De acordo com Mirele, os pedidos aumentam cerca de 20% no meio do ano, afinal, muitos aniversariantes da época escolhem comemorar mais um ano de vida com o tema festa junina.

Hit do momento

Cheesecake de paçoca da Avellan é um sucesso do período junino

Cacau Mídia/ Divulgação

Na confeitaria Avellan, que tem mais de 30 anos de história, o amendoim ganha protagonismo no meio do ano. O cheesecake, que é um sucesso por lá, ganha sua versão com paçoca e cobertura de doce de leite (R$ 23,90 a fatia ou R$ 260 a torta inteira) entre junho e agosto.


Na realidade, Pedro Gazzinelli, sócio da casa, conta que a torta pode ser comprada congelada ou por encomenda durante todo o ano, mas que a versão fresca na vitrine da confeitaria só é encontrada no meio do ano. Por dia, neste período, são vendidas em média 30 fatias do cheesecake, que fica entre os produtos mais vendidos ao lado do pudim de pistache e da torta de morango.

A criação do cheesecake de paçoca está diretamente relacionada à festa junina. O doce foi desenvolvido para uma festa de aniversário com esse tema. “Depois que fizemos o teste, me apaixonei e os clientes também, os ingredientes combinaram perfeitamente”, explica Pedro.


A confeitaria trabalha com o outro clássico ingrediente junino em versão doce, que deu origem ao bolo de milho verde com coco ralado (R$ 28). Este, ao contrário do cheesecake, está sempre disponível. “Apesar de ser bem perecível, ele vende muito todos os dias”, comenta.


A história desse produto começou há quase dez anos, quando o Degusta fez uma matéria de doces juninos com a Avellan. Na ocasião, fizeram testes do bolo, que acabou conquistando seu posto cativo no cardápio. “O pessoal vinha trazendo o jornal e querendo experimentar o bolo”, comenta Pedro.

 

Brasil com Ásia

Frango a paçoquinha da Cozinha Tupis mescla sabores mineiros e asiáticos

Bernardo Silva/ Divulgação

Quem diz que a paçoca de amendoim deveria vir apenas em doces certamente não conversou com Henrique Gilberto, chef da Cozinha Tupis. Em sua constante busca por um resgate da culinária mineira com pitadas cosmopolitas, ele chegou em um produto que mistura o tradicional frango a arinho com a paçoca: o frango à paçoquinha (R$ 49).


O prato é um dos grandes sucessos da casa e leva tulipinhas de frango fritas e besuntadas em molho levemente apimentado com pimenta gochujang (pasta de pimenta fermentada coreana) e é servido com farelo de paçoquinha.

Apesar de ser adaptado ao paladar mineiro, o prato foi inspirado em um petisco que misturava frango e amendoim que Henrique experimentou no bar asiático Tan Tan, em São Paulo. Essa mistura, que é muito comum na gastronomia oriental, se tornou inovadora principalmente pela opção de uso da paçoca, que se difere bastante do amendoim em grãos.

Para aquecer o coração 

Néctar da Serra monta bufê com mais de 20 tipos de caldos, de maio a agosto

Estúdio Bingo Divulgação

Se no Hemisfério Norte as festas do meio do ano celebravam, inicialmente, o início do verão, no Brasil, elas celebram o início do inverno. Apesar do frio mineiro não ser tão rigoroso, basta que as temperaturas caiam para que a procura por caldos e sopas aumente.

Em Belo Horizonte, o Néctar da Serra, que já tem mais de 30 anos de mercado, é um dos restaurantes que aposta em um bufê de caldos (R$ 64 o quilo), que conta com mais de 20 opções. Essa atração do restaurante já existe há cerca de 20 anos, e com a chegada do frio, os clientes sempre cobram o início dessa temporada. De maio até agosto, a casa trabalha com essa modalidade em suas duas unidades, na Savassi e no Mangabeiras, das 18h às 21h30, ambas na Região Centro-Sul da capital.


É evidente que o tempo frio influencia na temporada dos caldos no restaurante, mas é inegável também que o desejo que as festas juninas deixam nas pessoas de comer receitas típicas aumenta o movimento por lá. “Podemos falar que os caldos que mais saem são aqueles tradicionais das festas juninas, como a canjiquinha, a canjica doce, caldo de mandioca com carne ou frango e mingau de milho”, explica Júnia Quick, proprietária do restaurante.


Essas receitas tradicionais não saem do padrão de ingredientes típicos da festa junina no país. O milho, por exemplo, pode se derivar em mingau, canjica ou canjiquinha. A mandioca também é um alimento tradicional deste período, principalmente na composição de sopas. O tubérculo que alimenta a culinária tradicional caipira tem origem indígena, assim como boa parte dos alimentos considerados mineiros.
Apesar de tantas receitas tradicionais servidas no Néctar da Serra, Júnia destaca que a possibilidade do bufê a quilo de se servir da forma como quiser também ativa a criatividade dos clientes, que podem misturar caldos e criar suas próprias receitas.

Na brasa

Espetinho de frango do Assacabrasa

Christoph Reher Divulgação

Os espetinhos também são indispensáveis em um cardápio junino. Feitos no calor do fogo, eles, além de aquecer o pessoal, também se destacam pela praticidade na hora de servir. E foi justamente servindo espetinhos e churrasco que o Assacabrasa se tornou referência no assunto em BH.


A casa, que também já ou dos 30 anos de existência, surgiu com os eventos. Depois de se consolidarem nesse meio, aram a atuar em um ponto físico no happy hour, no endereço no Bairro Lourdes onde permanecem até hoje, em funcionamento no almoço também.


Desde o início do empreendimento, o churrasco sempre foi o protagonista. Atualmente, apesar de trabalharem com um bufê self-service completo e muitas opções à la carte, a casa ainda é referência nas carnes na brasa. Os eventos também continuaram sendo um dos segmentos de atuação do Assacabrasa e, em época de festa junina, a procura é ainda maior que o usual.


“Essa época do ano é muito boa porque as comidas que servimos são muito procuradas, o churrasquinho e os caldos, que também trabalhamos no período das festas juninas, são sempre pedidos”, destaca Juca Carvalho, sócio do restaurante.

Uma das criações especiais dessas festas é o espetinho de milho na brasa, item já muito amado pelos mineiros. Apesar do sucesso, o restaurante trabalha com ele apenas em eventos, a pedido do cliente. A boa notícia para os apaixonados pelo cereal na brasa ou mesmo para vegetarianos que amam um bom churrasco é que, pela enorme demanda, o milho na brasa vai entrar no cardápio à la carte de todas as unidades do Assacabrasa a partir de julho.


Enquanto o milho não chega ao cardápio, quem quiser matar a vontade de um churrasquinho pode escolher entre as opções servidas no Assacabrasa: Baby Beef (R$ 23), tulipa da asa, marguerita (muçarela com tomate-cereja), frango ao pesto ou lombo com bacon (R$ 22 cada).

*Estagiária sob supervisão de Isabela Teixeira da Costa

Receita: canjiquinha com lombo defumado do Néctar da Serra

Canjiquinha com lombo defumado Néctar da Serra

Estúdio Bingo /Divulgação


Ingredientes:

  • 1kg de canjiquinha cozida;
  • 200g de cebola;
  • 250g de alho;
  • 250g de aipo;
  • 200ml de óleo;
  • 1 kg de tomate em cubos;
  • 25g de colorau;
  • 3 unidades de pimentão amarelo em cubos;
  • 3 unidades de pimentão vermelho em cubos;
  • 2kg de lombo defumado cozido em cubos
  • Água (o quanto baste);
  • Sal (o quanto baste).

Modo de preparo:

  • Adicione o óleo em uma a e sele o lombo.
  • Acrescente o colorau e deixe fritar mais um pouco.
  • Em seguida, adicione a cebola, os pimentões e o tomate e deixe cozinhar.
  • Acrescente água e deixe tudo isso ferver.
  • Depois, coloque a canjiquinha cozida nessa mistura, acerte o sal e desligue o fogo.
  • Sirva quente.

Serviço

Cozinha Tupis (@cozinhatupis)

Avenida Olegário Maciel, 742, loja 2161, Centro (Mercado Novo)
De terça a sexta, das 11h30 às 22h30
Sábado, das 11h30 às 22h
Domingo, das 11h30 às 16h

Restaurante Trintaeum (@trintaeumrestaurante)


Rua Prof. Antônio Aleixo, 20, Lourdes
(31) 97141-7308
De segunda a sexta, das 11h30 às 15h30 e das 19h às 23h
Sábado, das 8h às 10h30, das 12h às 16h e das 19h às 23h
Domingo, das 8h às 10h30 e das 12h às 16h

D’artagnan (@dartagnanbistro)


Rua Tomás Gonzaga, 593, Lourdes
(31) 3295-7878
Terça, das 19h à 00h
Quarta e quinta, das 12h às 16h e das 19h à 00h
Sexta e sábado, das 12h à 00h
Domingo, das 12h às 17h

Das Gêmeas (de Mirele Castro) (@dasgemeas)


(31) 98763-3156
dasgemeasbc@gmail.com

Avellan Confeitaria (@avellan_confeitaria)


Avenida Bernardo Monteiro, 1542, Funcionários
(31) 3222-9272
Segunda e terça, das 10h às 18h
De quarta a sexta, das 10h às 19h30
Sábado, das 9h30 às 16h

Néctar da Serra (@nectardaserra)


(Savassi)
Rua Santa Rita Durão, 929, Funcionários
(31) 3261-2969
De segunda a sábado, das 9h às 22h
Domingo, das 10h às 21h

(Mangabeiras)
Avenida dos Bandeirantes, 1839, Mangabeiras
(31) 3281-1466
De segunda a domingo, das 8h às 22h

Assacabrasa (@assacabrasa)


(Lourdes, uma das cinco unidades)
Rua Rio de Janeiro, 2107, Lourdes
Segunda, das 11h30 às 22h
De terça a quinta, das 11h30 às 23h
Sexta e sábado, das 11h30 às 23h30
Domingo, das 11h30 às 20h

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