Uma boa história sempre pode ser contada mais de uma vez. É o que prova o sucesso da recente “Dept. Q”, produção da Netflix adaptada do primeiro volume da franquia policial dinamarquesa do escritor Jussi Adler-Olsen. Já são 10 livros, e algumas adaptações em seu país de origem.


Disponível no Filmelier+, o longa “Departamento Q: Guardiões das causas perdidas” (2013) conta a mesma história da série. Vale a pena assistir aos dois. Neste caso, a ordem dos fatores não altera o produto – ou seja, independentemente de qual vier primeiro, ele não “estraga” o outro.


A trama acompanha o detetive Carl Morck. Ele é tão brilhante quanto arrogante. Com uma vida pessoal em frangalhos (como preza a cartilha dos romances policiais nórdicos), sua situação piora depois de um tiroteio que tira a vida de um policial novato e coloca seu parceiro em uma cadeira de rodas.


Desacreditado por seus pares, ele é “convidado” para chefiar o Departamento Q, uma seção de um homem só que vai cuidar de casos arquivados. Acaba conseguindo um novo parceiro, um imigrante sírio.


O primeiro caso é de uma mulher que desapareceu há quatro anos. A investigação original classificou o caso como suicídio, mas não há corpo. Ela tem um irmão com problemas mentais, a única testemunha do que pode ter acontecido na balsa onde sumiu. A dupla acredita que a mulher está bem viva.


A narrativa é essa nas duas produções. Mas a investigação, a motivação do crime e até mesmo os culpados são distintos. A adaptação da Netflix, assinada por Scott Frank (“O gambito da rainha”), leva a história para Edimburgo.


Morck (Matthew Goode) é um detetive inglês que vive há muitos anos na Escócia. Seu companheiro é Akram Salim (Alexej Manvelov), de ado nebuloso na Síria que entra para o departamento como consultor, pois não é formalmente um policial. Como a série tem nove episódios, há muitos detalhes e tramas secundárias.


Já no primeiro episódio descobrimos a vítima, Merritt Lingard (Chloe Pirrie) uma promotora de Justiça durona que, assim como Morck, não é popular entre os seus. A história segue no ado com a vítima e no presente com a investigação, até que os tempos se encontram.

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O mais interessante é a opção estética da série. “Dept. Q” é neo-noir, com cenários estilizados (como o próprio setor que dá nome à série) e personagens quase saídos de um cartoon. Entre elas a jovem policial Rose Dickson (Leah Burne), um dos alívios cômicos da produção. Mesmo com todas as liberdades feitas, a adaptação mantém o suspense, e a trama, bastante intrincada, convence.


Já o filme “Departamento Q: Guardiões das causas perdidas” tem 1h30 para desenvolver a trama. A história, rodada em Copenhagen, é concentrada na dupla de detetives – Morck é vivido por Nikolaj Lie Kass e seu parceiro, chamado Assad, é interpretado por Fares Fares – e a vítima só aparece na metade final. O clima é outro, sombrio e pesado como as produções do gênero.


Este filme acabou sendo a introdução para os demais. Há outros três “Departamento Q” com os mesmos atores, realizados até 2018 (o segundo, “O ausente”, é o mais pesado deles). Outros dois longas, com novos intérpretes, foram produzidos em 2021 e 2024, mas não chegaram ao Brasil. É de se esperar, com a boa repercussão que a série teve, que a Netflix produza uma nova temporada – há fartura de bom material para isso.


“DEPT. Q”
• A série, com nove episódios, está disponível na Netflix

“DEPARTAMENTO Q”
• Os quatro primeiros filmes da série estão disponíveis no Filmelier+ (o ao canal via Prime Video)

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